sexta-feira, 17 de julho de 2015

Domino's Pizza

Pronto, era só o que faltava. E não o digo no mau sentido. Não; era mesmo só o que faltava. Depois dos hambúrgueres, das lojas americanas carregadinhas de lucky charmspop tarts e twizzlers, depois dos cafés de meio litro e dos donuts cobertos de granulado colorido, eis que chegam até nós as pizzas dos filmes. E digo que chegam até nós porque, sinceramente, se tivermos de ir até Telheiras para as comer, é bem capaz de não valer a pena. Com cerca de um milhão de entregas diárias, a Domino's orgulha-se de ser líder mundial na distribuição de pizzas. Pudera...! Se as outras lojas forem todas tão mal localizadas como esta, é natural que tenha de ser a pizza a ir a Maomé.

Sítio feioso no meio dos prédios à parte - e que me perdoem os moradores de Telheiras que há-de ter lá as suas virtudes - outra das coisas que não merece a visita é o atendimento. Fomos salvos por uma gerente expedita, mas o rapaz que nos atendeu percebia tanto daquilo como eu percebo de lagares de azeite. Resultado: se não o ensinasse a mexer no multibanco, tinha trazido a pizza por 99 cêntimos. O que na volta até nem era má ideia, mas depois não podia escrever sobre isso. Colocar os nomes num ecrã, onde podemos ir controlando os minutos que faltam para que a nossa pizza esteja pronta, é uma ideia engraçada porque permite-nos ser quem quisermos, conforme a disposição. Eu fui o Bruno Vaz - mas não sei o que isso significa.

As pizzas propriamente ditas são uma surpresa agradável. A massa é bastante boa e os preços são em conta. Apesar de parecer ligeiramente mais pequena do que o habitual, uma pizza média feita à medida custa cerca de 7 euros. Também não são forretas com os ingredientes. Preferia que a cebola fosse cozinhada, mas gostei dos cogumelos frescos. Pedir jalapeños é uma daquelas coisas que fazemos porque parece cool e diferente, mas honestamente não vale a pena. O meu conselho é que não se metam nisso, mas apostem sem dúvida nas delícias de queijo como entrada. Em termos de preço, a cola de litro também compensa mais do que, por exemplo, duas latas.

A grande desilusão foi perceber que não fazem entregas para o centro de Lisboa. Mas com a promessa de que vão abrir mais lojas - uma delas no Areeiro - lá trouxe um íman para o frigorífico. Depois disso, uma amiga contou-me que quando encomendas a pizza dizem-te o nome de quem a vai levar. Parece que em casa dela assustaram à brava um empregado chamado Carlos que não sabia que isso era possível e ficou embasbacado quando se dirigiram a ele pelo nome. São pequenas coisas, mas se o diabo está nos detalhes, a Domino's pode muito bem chegar ao céu.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

100 Montaditos

O franchising espanhol chegou ao Príncipe Real no início do ano, mas foi a Primavera que me deu o empurrão necessário para experimentar as tão afamadas tapas que, no fundo, não são mais do que minúsculas sandes em baguete ou pão chapata. É giro, vá, e o preço ajuda a atenuar a desilusão. No fundo, sabemos que por 1 ou 2 euros também não podíamos pedir mais.

Não quero com isto dizer que tenha ficado particularmente desgostosa. Em primeiro lugar porque sabia ao que ia, e em segundo porque estava cheia de fome. Não tomei nota dos números pelos quais optámos (acusarei novamente a fome de toldar-me o julgamento) mas os "montaditos" de que mais gostei tinham carne desfiada, pimento e cebola crocante, queijo de cabra, tomate e - surpresa das surpresas - presunto ibérico e azeite.

A uma casa de tapas só não se perdoa a má qualidade do presunto - que aqui era translúcido e fino - ou da cerveja - provei a Cruzcampo e não fiquei mal servida. Por isso, posso dizer que os 100 Montaditos passaram no teste com um único reparo ao ar condicionado que estava de morrer.

terça-feira, 24 de março de 2015

As Asas do Vento

Do tanto que podia ser dito, torna-se difícil escrever sobre aquele que é o último filme do agora reformado Hayao Miyazaki. Quase dois anos depois da sua estreia lá fora, podem vê-lo em apenas três salas da capital e recomendo vivamente que o façam. Movido a sonhos, como o são todas as obras do magnífico cineasta japonês, As Asas do Vento é mais do que um filme sobre aviões ou a Segunda Guerra Mundial - é sim, um revisitar dos altos voos a que Miyazaki nos habituou e que dificilmente serão esquecidos.

Apesar da sua história pelos ares, é um filme com os pés assentes na terra. Mais "crescido" do que obras como O Meu Vizinho Totoro ou Ponyo à Beira-Mar, menos épico do que Princesa Mononoke e mais contido do que A Viagem De Chihiro, não deixou ainda assim de me encantar e deixar boquiaberta durante as duas horas da sua duração. Não foi recebido da mesma forma simpática no Oriente, onde Miyazaki chegou a ser acusado de glorificar o imperialismo japonês.

Visto deste lado do mundo, Jiro Horikoshi, personagem principal e criador do caça Mitsubishi Zero, afigura-se-me como um entusiasta que cria aviões de guerra durante o dia, mas sonha enchê-los de belas raparigas com vestidos esvoaçantes pela noite fora. No meio disto tudo, ainda sobra espaço para uma história de amor, um verão quente e um elogio da juventude da qual Hayao Miyazaki, com 74 anos e uma soberba imaginação, nunca poderá verdadeiramente despedir-se.

CINEMA IDEAL
15h30, 19h45

EL CORTE INGLES
14h, 16h35, 19h15, 21h55, 00h30

CINEMA CITY ALVALADE
19h40

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Vício Intrínseco

No trabalho sabiam que eu tinha ido ao cinema. Por isso, na manhã seguinte, quando me perguntaram que filme escolhera e a minha resposta não gerou qualquer tipo de esclarecimento, foi-me colocada a derradeira questão: "É sobre quê?". Devia ter-me ficado pelo inesperado e desconfortável riso algures entre o nervoso espectador de um filme de terror e o cientista louco com maquiavélicas ambições de domínio mundial. Mas não. Eu e a minha grande boca. Acrescentei: "Epá, não sei..."

"Não sabes?! Como não sabes?! Não percebeste?" E foi assim que, sendo confrontada com a constatação alheia de que eu evidentemente não entendera a adaptação cinematográfica do tresloucado romance de Thomas Pynchon, se materializou pela primeira vez alto e bom som a ideia que até aí apenas pairava na minha mente confusa. Respondi: "Eu... Acho que não era para perceber."

E de facto, parece-me agora vã e descabida qualquer tentativa de explicar o que se passa naquelas duas horas e meia de filme. Antes de escrever isto, e porque gosto de saber do que estou a falar, li uma série de críticas mais ou menos especializadas. Em primeiro lugar, e com pena minha, pouco diziam sobre a interpretação de Joaquin Phoenix. Em segundo, quase todas elas elogiavam de uma ou outra forma o autor do livro e Paul Thomas Anderson numa nuvem de fumo, utilizando palavras como "mocado" e "charro".

Apetece-me gozar com essas expressões que só me lembram os pais quando já no final dos anos 90, de cada vez que queriam parecer "jovens" nos respondiam com bué-da-fixes sorridentes, mas não posso deixar de concordar que introduzir sob a forma de diálogo duas ou três personagens novas, das quais nunca antes tínhamos ouvido falar, a cada cinco minutos de filme, é de facto motivo para dizer: mais tabaco nisso.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Nariz de Bergerac

Não sou um público fácil para teatro. Se por um lado não procuro as peças mais impenetráveis, experimentais e obscuras, por outro reviro demasiadas vezes os olhos às alegres patetices em cima do palco. Gosto do meio termo, aquele onde por vezes se encontra a virtude e a Companhia do Chapitô. E por isso desconfiava deste Cyrano de Bergerac meio real, meio inventado à luz do romantismo de Rostand.

Ainda assim, porque me lembrava do filme nas aulas do Mário de Carvalho e porque uma noite com amigos não se nega a ninguém, fui ser surpreendida pelo clássico e pelo heroísmo de uma personagem desfeada por um nariz quase tão pontiagudo como a espada com a qual se bate em duelos. Na sua impossibilidade de aceitar que pudesse ser amado apesar do aspecto físico, vi as mesmas barreiras que impomos a nós próprios de todas as vezes que pensamos não ser bons o suficiente. E saí dali decidida a  não ser um Cyrano. Se é para falhar, então que não seja por falta de tentativas.

CYRANO DE BERGERAC
Teatro Dona Maria II
Até 1 Março
Qua, 19h
Qui-sáb, 21h
Dom, 16h

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O segredo está na massa

E, convenhamos, está bem guardado. A pizza da imagem aqui ao lado parece-vos deliciosa? Desenganem-se já, porque não é. A escolha foi minha, e tive de viver com ela enquanto outros devoravam hambúrgueres calóricos e batatas fritas cheias de sal mesmo em frente do meu nariz. Mas arrependi-me, ó se me arrependi!, à primeira tentativa de cortá-la com garfo e faca. Esta Santorini da Madpizza tem tudo o que seria óptimo... numa salada. Mas se há coisa que anos a fio de Pizza Hut e Telepizza nos ensinaram é que o segredo de uma boa pizza está na massa.

Por um lado, as cadeias acima referidas são tudo menos saudáveis e sim, são forretas até mais não com os ingredientes. Por outro, aquilo é receita que nunca falha: fina e estaladiça ou alta e fofa, a base está sempre no ponto. Se a Capricciosa consegue, se a Casanova o faz de forma irrepreensível, e nem as Big Slice nos deixam ficar mal, qual é a desculpa da Madpizza? É por ser saudável? Nah, a mim não me convencem. Não há saúde no mundo que justifique servir ingredientes com tão bom aspecto em cima do que mais parece uma gigantesca bolacha de água e sal.

MADPIZZA
www.madpizza.com.pt

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Isto é uma América

Foi há quase duas semanas. O homem lá de casa queria à força experimentar as novas lavandarias self-service que explodiram um pouco por toda a cidade. Vai daí, no domingo à tarde, admitindo miseravelmente a nossa falta de coisas mais interessantes para fazer, carregámos o carro com sacos atafulhados de roupa e fomos à representante mais próxima, a Cotton Club.

Confesso que já não ia muito satisfeita com a constatação de que a minha vida agora era lavar e secar roupa nos fins-de-semana, mas quando lá chegámos e vi o tempo que íamos perder e o dinheiro que íamos gastar, fiz a cara mais amuada que consegui e pus rapidamente as nossas coisas no que me parecia ser a fila enquanto rosnava entre-dentes "nunca mais cá volto".

Uma sandes, um sumo de laranja e um café depois, a situação não me parecia tão má. Afinal aquilo até foi rápido (os programas de lavagem duram 30 minutos) e acabámos por não esperar tanto como previa. Ocupámos duas máquinas - uma para roupa branca e outra para roupa colorida - mas reparei que há malta que se está literalmente nas tintas para isso. Mas quem é que não separa a roupa? Estas pessoas nunca viram Friends? Há um episódio em que a personagem da Jennifer Aniston sai da lavandaria com um guarda-roupa cheio de peças cor-de-rosa. Cor-de-rosa! 

Pagar a lavagem com moedinhas, escolher o programa... é tudo muito engraçado, mas honestamente é para quem não tem máquina de lavar em casa. Se tiverem a mesma necessidade que eu de separar aquilo tudo, vai sair-vos mais caro. Só fiquei verdadeiramente fã da secagem. Por 1,50€ a cada 10 minutos, a roupa sai quente e fofa como um pãozinho. Excepto a que não sai, ou a que nunca deveria ter entrado. Se prezam as vossas indumentárias, seleccionem criteriosamente as peças que se adequam a essa aventura escaldante.