segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Noiserv, o super fofinho

O Natal e a absurda quantidade de trabalho que trouxe consigo impediram-me de escrever este texto atempadamente. Para trás ficou também o que tinha para dizer sobre Boyhood, o concerto dos 20 anos da ZDB e o Coolares Market. Escolhi o David Santos e este projecto de há alguns anos porque a) ainda não escrevi sobre música e b) caramba, o miúdo conquistou-me.

Até aqui ele era um nome no meio de outros, ao vivo apenas em 2011 no Festival do Silêncio numa homenagem a Al Berto, ou uma canção bonitinha que alguém partilhava no Facebook. Fui a convite de uma amiga e tive de fazer um esforço para me lembrar de onde conhecia o nome Noiserv, mas ainda assim não hesitei. Não se rejeita à partida um concerto que se desconhece, sobretudo no Jardim de Inverno do São Luíz, de onde nunca saí desiludida.

As mesas redondas de café deram lugar a uma pequena estrutura de plateia montada em torno do palco onde se encontravam os instrumentos e objectos variados que dão som (e luz e cor) a este projecto. O concerto super intimista foi repleto de pequenas conversas que quase sempre começavam com uma explicação do nome da próxima música e se estendiam a partilhas acerca de coisas banais, como o prazer de sair dali ao final da tarde e ainda poder andar até casa ou apanhar o eléctrico a tempo do jantar.

Noiserv consegue uma sonoridade simples, como uma coisa de criança, um sonho ou uma fantasia de carrossel tão bem espelhada no vídeo de "I was trying to sleep when everyone woke up" e ao mesmo tempo elegante, rica e cheia de pormenores deliciosos. Ao final de hora e meia de concerto, eu não precisava de mais provas: humilde e despretensiosa e por isso mágica e encantadora, a música do David é exactamente como ele.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Por fim, o céu Intraestrelado

Cheguei, vi e venci. À quarta tentativa e na segunda semana em sala, consegui finalmente ver o que andou Christopher Nolan a aprontar desta vez. Com o ano a terminar e a sua entrada para os tops de "mais visto no fim-de-semana de estreia" e "melhor abertura", o hype gigantesco que se gerou em torno de Interstellar quase me fez desistir da absoluta convicção de que tinha de vê-lo em IMAX, onde foi também campeão de vendas. Valeu-me a estreia do lixo colorido que é Hunger Games e que rapidamente desviou as atenções dos anéis de Saturno para as curvas absolutamente invejáveis da Jennifer Lawrence.

Antes de me sentar para escrever este texto, a minha ideia era falar da experiência IMAX, de como há filmes que se é para ver que seja ali ou no planetário, e entrar por aí. Mas agora que me forço a olhar para trás e a pensar no que senti ontem, já não me apetece nada disso. O que há de melhor no cinema é a forma como duas pessoas podem ver o mesmo filme em simultâneo e sentir coisas tão distintas, que são fruto do que nos torna humanos e que, como debatia ontem no pós-filme, vai para além do código genético.

De física quântica sei rigorosamente nada, mas caramba, de sentimentos percebo eu. Disseram-me alguma coisa como "houve ali momentos em que me senti angustiado", mas para mim não houve nada disso. Se por um lado o filme está cheio de ideias assustadoras, se abala por completo as nossas noções bem arrumadinhas de espaço e tempo, se nos impele a viajar no espaço para além do espaço e - a la quinta dimensão - entender tudo como um todo, por outro lado assegura-nos de que há sentimentos que atravessam tudo o que existe, reconforta-nos com a ideia de que os afectos são de alguma forma o expoente máximo do conhecimento. 

Entendo que possa ser naïve, mas isto é Hollywood baby, é disto que os sonhos são feitos. E por mais Christopher Nolan que se seja, não há como fugir, não há como escapar à absoluta necessidade de dizer-nos a todos nós, espectadores, aquilo que queremos ouvir e que é: nada bate o amor. Nem ali, nem no espaço sideral, nem no Hunger Games da sala do lado.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Do Cabaret para o Convento

Do cabaret para o convento basta atravessar a estrada. Pelo menos na rua Luciano Cordeiro, onde a mais recente das lojas "A Pousadinha", templo da doçaria conventual, é vizinha do mítico Elefante Branco. A quantidade de trocadilhos idiotas a que isto se presta é de bradar aos Céus! Ou aos Infernos, dependendo do ponto de vista. E sem esforço absolutamente nenhum. Atentem no nome de alguns dos bolos que por ali se encontram: noviça, maminha de freira, segredo de Inês, suspiro... Caramba, assim de repente até o queque me faz hesitar.

Para não fugir à tendência, escolhi um bom-bocado. E foi mesmo isso que ali passei, enquanto folheava uma revista e ouvia os empregados super simpáticos a palrar alegremente com um miúdo guloso que devorava uma queijada. Podia ter escolhido a esplanada, com árvores e chapéus de sol a lembrar as infinitas tardes de café com as amigas nos tempos de liceu, mas já começava a escurecer e o ambiente lá fora estava mais para conversas do que para leituras. Agendei para uma próxima. Por agora vou só ali ao ginásio arrepender-me deste pecado.

A POUSADINHA
Rua Luciano Cordeiro, 46 A
Seg-dom, 7h00-20h00

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mú, não é uma vaca

O regresso inesperado do verão deu-me a desculpa de que precisava para vir gabar um dos encantos cá do bairro: a gelataria Mú, que abriu portas há 4 meses ali nos Mártires da Pátria. O prédio é um dos meus preferidos desde que me mudei, e vê-lo acolher um negócio familiar de gelados artesanais encheu-me o coração.

Quando a vi em funcionamento, fui logo meter o bedelho. Falei com os donos italianos, fiz perguntas, regressei várias vezes, levei amigos e família, elogiei-lhes a decoração e, claro, provei um montão de sabores diferentes. Nas gamas al Latte Specialitá há muito boas surpresas como o sabor de amendoim ou bolacha e nucrema. Mas do que eu gosto mesmo é dos Sorbetti, feitos com uma percentagem absurda de fruta fresca e sem lactose.

Podem não ser melhores do que os eternos Santini, mas têm uma particularidade interessante que são as misturas de sabores que funcionam lindamente em conjunto. Exemplos? Pêra e canela, ananás e hortelã, limão e gengibre. No-brainer? Talvez, mas em equipa que ganha não se mexe.

GELATARIA MÚ
Campo Mártires da Pátria, 50
Ter-sex, 12h30-20h
Sáb-dom, 14h30-20h30

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Em Parte Incerta

Declaro a sessão de cinema de ontem como a minha saída oficial e gloriosa da silly season. A escolha recaiu com naturalidade sobre David Fincher, em todo o seu esplendor e a um nível que leva a crítica a considerar este "Em Parte Incerta" como um dos filmes do ano. Mais uma vez, não vou aventurar-me em análises extensivas acerca da narrativa, desconstrução de personagens e tantas coisas que podiam (e deviam. Céus, como deviam!) ser ditas acerca deste thriller cativante e delicioso. Não sendo absolutamente imprevisível, mostra-nos muitas vezes que não é disso que se trata. Para mim, não é tanto a surpresa do que acontece, mas como e porquê. Diria melhor: para quê.

Agora que vai haver muito boa gente a odiar, isso vai. Bastou-nos olhar para as duas senhoras de meia-idade que deixavam a sala de cinema à nossa frente manifestando em voz alta o seu desagrado. Das diversas falhas gravíssimas apontadas pelas mesmas, recordo-me das seguintes: a) a duração do filme. Como toda a gente sabe, a duração apropriada deve estar entre os 90 e os 100 minutos. Mais do que isso já é um desperdício de tempo útil que poderia ser utilizado para fazer uma máquina de roupa e adiantar o jantar; b) que o filme foi "uma seca" - lá está. De novo, nada bate o entusiasmo de roupa colorida a girar no tambor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Cerveteca Lisboa

Há dezenas de boas desculpas para visitar a Praça das Flores, mas numa sexta-feira à noite e com um grupo de amigos, esta é capaz de ser a melhor. Abriu ainda o verão começava, mas só agora que ele ameaça partir decidi brindar o mundo com a opinião de quem lá foi molhar o bico e matar a curiosidade. Digo a curiosidade e não a sede porque os preços não estão para isso... Posso até começar já por aí.

A Cerveteca não é coisa para se fazer, é para se ir fazendo. Há uma data de cervejas de outras nacionalidades? Há. Mas são tantas e tão carotas que não se provam todas numa noite. Superbock e Sagres nem vê-las, de resto até se torna difícil escolher. Os belgas e os escoceses, que percebem disto à brava, são os grandes destaques na carta. Para a mesa vieram duas Brew Dog (amber e scotch, completamente diferentes), uma Orval e uma Liefmans de framboesa.

Confesso que de cerveja percebo muito pouco. Sei dizer que a fruit beer sabia lindamente e a scotch ale nem por isso, que as pessoas foram simpáticas e gostei da estante com garrafas de rótulos coloridos. O resto da decoração é um grande bocejo. Falta ali o ambiente que sobeja em bares como o Foxtrot ou o Pavilhão Chinês... Na iluminação, no mobiliário e até nas escolhas musicais, a Biblioteca das Cervejas devia aprender com os mais velhos.

CERVETECA LISBOA
Praça das Flores, 62
Ter, 18h-24h
Qua e Qui, 14h-24h
Sex e Sáb, 18h-02h
Dom, 14h-22h

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Trendy-HotDogs

Aí há uns tempos (antes de ir de férias e ficar meses sem escrever) ia toda lampeira almoçar à Hamburgueria do Bairro por volta das 4h da tarde e qual não foi o meu espanto ao chegar e ver que o dito restaurante já lá não estava. A fome era tanta que sinceramente nem hesitei. "Ai agora é Modjo? Ai é cachorros? Tem batatas, não tem? Pronto, serve." - foi mais ou menos isto.

Sentei-me, desatei a fazer perguntas à empregada e foi assim que mesmo antes de provar, eu soube que não ia arrepender-me de ter ficado por ali. Afinal, a malta da Hamburgueria, provavelmente cansada da falta de espaço e por ter sempre casa cheia, mudou os hambúrgueres para outra rua e instalou ali os cachorros. Sim, sim, são os mesmos donos, os malandros!

Pão, salsicha de porco, alface iceberg, guacamole, chilli e nachos resultam na mistura colorida e feliz que é o cachorro com o nome da casa. Mas além desta há outras opções igualmente apetecíveis. O Sweet Relish com pickle de pepino agri-doce, o Gipsy com queijo cheddar, cebola caramelizada e cogumelos, o Veggie com salsicha vegetariana, rúcula e ratatouille.

A qualidade é aquela a que estamos habituados. Confort food da boa, com direito a salsichas a sério, ingredientes frescos, criativos e deliciosos. O pãozinho podia ser melhor... Mas os croquetes de mozzarella comoveram-me. Se pedirem essa entrada, não se aventurem com batatas e onion rings, a menos que sejam gente de muito alimento. Contra mim falo, que saí de lá praticamente a rebolar.

MODJO
Travessa Monte do Carmo, 19
Todos os dias, 12h-24h

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Há Mercado na Ribeira

Rendi-me à moda dos mercados. Confesso que andava com inveja das romarias dos meus amigos até Campo de Ourique, e por isso assim que a TimeOut anunciou a abertura do novíssimo projecto de reabilitação do Mercado da Ribeira, decidi vingar-me e ir conhecê-lo quanto antes. Fiquei fã, hei-de voltar, mas talvez quando deixar de ser novidade.

Sobre o espaço não vale a pena escrever muito. Já tantos outros o fizeram que se quiserem mesmo saber de onde vêm os candeeiros, vão pesquisar. (e depois contem-me, que havia lá uns giros de morrer)

Resumindo: está tudo muito bem organizadinho, há umas bancas ao género "take away" da Conserveira Nacional, Nós é Mais Bolos, Santini e afins, uma zona dedicada a Chefes como o Henrique Sá Pessoa e outros que sinceramente não me recordo, e nomes que a nossa barriga aprecia e que marcam presença na restauração. Uma salva de palmas para o Café de São Bento, o Honorato, a Pizza a Pezzi, o Sea Me e o Prego da Peixaria, que muito merecem ali estar.

Este último foi, aliás, a minha escolha para a refeição da noite. Já que também ainda não o tinha visitado no Príncipe Real, juntei o útil ao agradável e deliciei-me com um Yuppie de carne do lombo, maionese de manjericão, queijo cheddar e pancetta em bolo do caco da Madeira. Também dei uma trinca no Punk de cogumelo Portobello, rúcula e tomate em bolo do caco da Tandoori. São ambos deliciosos, do género comer e chorar por mais. As chips de batata doce também prometiam... Mas infelizmente não cumpriram. Como me fizeram ver mais tarde, nisto dos hambúrgueres quando há muita clientela, a batata é que paga.

E eis que chegamos ao único ponto negativo desta experiência simpática e que me faz pensar que só regresso quando se esgotar a novidade. Era terça-feira à noite. Terça-feira, não Sábado. Chovia que Deus a dava, e mesmo assim havia gente aos molhos. Demorámos um bom bocado a encontrar mesa para cinco, esperámos em filas, e uma senhora da limpeza agradeceu-me 30 vezes quando já no fim da refeição lhe confirmei que íamos levantar-nos pois estava há que tempos a tentar sentar dois ingleses que lhe tinham pedido ajuda.

Quando a senhora de limpeza se transforma em hostess, sabes que tens um problema. É mandar vir mais meia dúzia de mesas e cadeiras e fica a casa arrumada.

MERCADO DA RIBEIRA
Avenida 24 de Julho
Dom-qua, 10h-24h
Qui-sáb, 10h-02h

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Amorino à terceira vista

Hoje fui experimentar a Amorino do Chiado. Já tinha provado os crepes e os waffles na loja da Rua Augusta e como tal, só me faltava a estrela da casa: lo gelato. O preço ainda me fez hesitar... Três euros e meio por um copo pequeno não é pera doce. Mas lá me venderam aquela ideia muito trendy de que é tudo biológico, sem corantes, nem conservantes, e nos dias que correm a ausência de porcarias na comida faz-se pagar. A verdade é que nem assim esqueci a quantidade de moedas que me saltaram da carteira!

O espaço não é mau, mas é meio invernoso... Há qualquer coisa naqueles sofás escuros que me lembra chocolate quente. O melhor elogio que lhes posso fazer é que se diferenciam pela quantidade de sabores que nos permitem escolher. Ainda ponderei levar um de cada, mas fiquei-me pelos habituais manga, maracujá e framboesa, e agora sei que foi um erro. É que esses são justamente os meus preferidos naquela que é a melhor gelataria do mundo (e não, não vi o mundo todo e não, não quero saber - é a melhor) e na qual são infinitamente deliciosos. Ainda para mais isto tudo com ela mesmo ali ao lado, a vigiar a minha traição. Santini querida, perdoa-me, eu não sabia o que fazia.

AMORINO
Rua Augusta, 209
Rua Garrett, 49
Todos os dias, 10h30-24h

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A Landeau e Ela

No domingo passado, o namorado e a revista Tentações levaram-me a lanchar na Landeau. Torci o nariz à promessa de um bolo de chocolate divinal porque já me bastou a desilusão com o (supostamente) Melhor Bolo de Chocolate do Mundo que nunca achei mesmo nada de extraordinário. Mas lá fui. Demorámos um bocadinho a dar com o sítio, mas quando chegámos gostei imediatamente do espaço simples mas bem pensado, da iluminação acolhedora, da mesa, do biombo e, claro está, do bolo que é uma espécie de híbrido: uma mistura deliciosa algures entre o bolo e a mousse de chocolate, meio impossível de definir. Fiquei fã. Qual Campo de Ourique, qual quê! Eu cá nunca mais arredo pé do Chiado.

Quanto ao Ela ali no título, tem uma razão de ser. É que depois das calorias, demos uma corridinha até ao metro numa tentativa desesperada de fugir da chuva, e fomos ao cinema ver o Her do Spike Jonze que é das melhores coisinhas que vi este ano. Sim, sim... Também adorei o 12 Years a Slave e o Wolf of Wall Street, só que não sei... Se calhar foi do bolo que comi antes, mas a verdade é que este filme tocou-me num daqueles nervos sensíveis à complexidade das relações humanas (como toda a gente sabe, há nervos específicos para isto) e do amor (para isto também), e fiquei encantada. Também adorei as camisas do Joaquin Phoenix e a voz da Scarlett que mesmo sem aparecer consegue ser sexy como tudo, o raio da miúda.

LANDEAU CHOCOLATE
Chiado - Rua das Flores, 70
Lx Factory - Rua Rodrigues Sampaio, 103
Todos os dias, 12h-19h

Café Na Fábrica

Mais um artigo sobre casas de chá?! Todos os anos é a mesma coisa. Assim que o tempo arrefece impingem-nos meia dúzia de espaços novos com uma decoração modernaça ou retro vintage ao quadrado e a promessa de que ali vamos ser muito felizes. Mas a consumir exactamente o quê? É que se for para beber chá de tília, fico em casa.

Pois bem. Eis-me aqui com uma informação preciosa sobre este Café Na Fábrica que não consta em nenhum dos artigos que li sobre o espaço. Esse, claro, já não é novidade. Mas do tanto que se escreveu acerca da decoração, dos bolos, dos brunches, dos quadros, da esplanada e, enfim, do café, como é que nunca ninguém me disse que afinal de contas era ali que estava o melhor chá de Lisboa? O melhor, o melhorzinho, garantidamente. E olhem que já provei uma catrefada deles! A meu ver, são três os ingredientes para o sucesso: 1. é caseiro 2. tem morangos 3. tem gengibre. Não precisa de mais nada. Nem de bolos a acompanhar, nem de bules complicados que nos fazem entornar metade da bebida. É servido em chávenas altas e vai lindamente com uma boa conversa entre amigos. Isso sim, é o que importa.

CAFÉ NA FÁBRICA
Lx Factory
Rua Rodrigues Faria, 103
Seg-sex, 9h30-20h
Sáb, 12h-19h
Dom, 10h30-19h