quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Do Cabaret para o Convento

Do cabaret para o convento basta atravessar a estrada. Pelo menos na rua Luciano Cordeiro, onde a mais recente das lojas "A Pousadinha", templo da doçaria conventual, é vizinha do mítico Elefante Branco. A quantidade de trocadilhos idiotas a que isto se presta é de bradar aos Céus! Ou aos Infernos, dependendo do ponto de vista. E sem esforço absolutamente nenhum. Atentem no nome de alguns dos bolos que por ali se encontram: noviça, maminha de freira, segredo de Inês, suspiro... Caramba, assim de repente até o queque me faz hesitar.

Para não fugir à tendência, escolhi um bom-bocado. E foi mesmo isso que ali passei, enquanto folheava uma revista e ouvia os empregados super simpáticos a palrar alegremente com um miúdo guloso que devorava uma queijada. Podia ter escolhido a esplanada, com árvores e chapéus de sol a lembrar as infinitas tardes de café com as amigas nos tempos de liceu, mas já começava a escurecer e o ambiente lá fora estava mais para conversas do que para leituras. Agendei para uma próxima. Por agora vou só ali ao ginásio arrepender-me deste pecado.

A POUSADINHA
Rua Luciano Cordeiro, 46 A
Seg-dom, 7h00-20h00

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mú, não é uma vaca

O regresso inesperado do verão deu-me a desculpa de que precisava para vir gabar um dos encantos cá do bairro: a gelataria Mú, que abriu portas há 4 meses ali nos Mártires da Pátria. O prédio é um dos meus preferidos desde que me mudei, e vê-lo acolher um negócio familiar de gelados artesanais encheu-me o coração.

Quando a vi em funcionamento, fui logo meter o bedelho. Falei com os donos italianos, fiz perguntas, regressei várias vezes, levei amigos e família, elogiei-lhes a decoração e, claro, provei um montão de sabores diferentes. Nas gamas al Latte Specialitá há muito boas surpresas como o sabor de amendoim ou bolacha e nucrema. Mas do que eu gosto mesmo é dos Sorbetti, feitos com uma percentagem absurda de fruta fresca e sem lactose.

Podem não ser melhores do que os eternos Santini, mas têm uma particularidade interessante que são as misturas de sabores que funcionam lindamente em conjunto. Exemplos? Pêra e canela, ananás e hortelã, limão e gengibre. No-brainer? Talvez, mas em equipa que ganha não se mexe.

GELATARIA MÚ
Campo Mártires da Pátria, 50
Ter-sex, 12h30-20h
Sáb-dom, 14h30-20h30

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Em Parte Incerta

Declaro a sessão de cinema de ontem como a minha saída oficial e gloriosa da silly season. A escolha recaiu com naturalidade sobre David Fincher, em todo o seu esplendor e a um nível que leva a crítica a considerar este "Em Parte Incerta" como um dos filmes do ano. Mais uma vez, não vou aventurar-me em análises extensivas acerca da narrativa, desconstrução de personagens e tantas coisas que podiam (e deviam. Céus, como deviam!) ser ditas acerca deste thriller cativante e delicioso. Não sendo absolutamente imprevisível, mostra-nos muitas vezes que não é disso que se trata. Para mim, não é tanto a surpresa do que acontece, mas como e porquê. Diria melhor: para quê.

Agora que vai haver muito boa gente a odiar, isso vai. Bastou-nos olhar para as duas senhoras de meia-idade que deixavam a sala de cinema à nossa frente manifestando em voz alta o seu desagrado. Das diversas falhas gravíssimas apontadas pelas mesmas, recordo-me das seguintes: a) a duração do filme. Como toda a gente sabe, a duração apropriada deve estar entre os 90 e os 100 minutos. Mais do que isso já é um desperdício de tempo útil que poderia ser utilizado para fazer uma máquina de roupa e adiantar o jantar; b) que o filme foi "uma seca" - lá está. De novo, nada bate o entusiasmo de roupa colorida a girar no tambor.