sábado, 28 de fevereiro de 2015

Vício Intrínseco

No trabalho sabiam que eu tinha ido ao cinema. Por isso, na manhã seguinte, quando me perguntaram que filme escolhera e a minha resposta não gerou qualquer tipo de esclarecimento, foi-me colocada a derradeira questão: "É sobre quê?". Devia ter-me ficado pelo inesperado e desconfortável riso algures entre o nervoso espectador de um filme de terror e o cientista louco com maquiavélicas ambições de domínio mundial. Mas não. Eu e a minha grande boca. Acrescentei: "Epá, não sei..."

"Não sabes?! Como não sabes?! Não percebeste?" E foi assim que, sendo confrontada com a constatação alheia de que eu evidentemente não entendera a adaptação cinematográfica do tresloucado romance de Thomas Pynchon, se materializou pela primeira vez alto e bom som a ideia que até aí apenas pairava na minha mente confusa. Respondi: "Eu... Acho que não era para perceber."

E de facto, parece-me agora vã e descabida qualquer tentativa de explicar o que se passa naquelas duas horas e meia de filme. Antes de escrever isto, e porque gosto de saber do que estou a falar, li uma série de críticas mais ou menos especializadas. Em primeiro lugar, e com pena minha, pouco diziam sobre a interpretação de Joaquin Phoenix. Em segundo, quase todas elas elogiavam de uma ou outra forma o autor do livro e Paul Thomas Anderson numa nuvem de fumo, utilizando palavras como "mocado" e "charro".

Apetece-me gozar com essas expressões que só me lembram os pais quando já no final dos anos 90, de cada vez que queriam parecer "jovens" nos respondiam com bué-da-fixes sorridentes, mas não posso deixar de concordar que introduzir sob a forma de diálogo duas ou três personagens novas, das quais nunca antes tínhamos ouvido falar, a cada cinco minutos de filme, é de facto motivo para dizer: mais tabaco nisso.