sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Por fim, o céu Intraestrelado

Cheguei, vi e venci. À quarta tentativa e na segunda semana em sala, consegui finalmente ver o que andou Christopher Nolan a aprontar desta vez. Com o ano a terminar e a sua entrada para os tops de "mais visto no fim-de-semana de estreia" e "melhor abertura", o hype gigantesco que se gerou em torno de Interstellar quase me fez desistir da absoluta convicção de que tinha de vê-lo em IMAX, onde foi também campeão de vendas. Valeu-me a estreia do lixo colorido que é Hunger Games e que rapidamente desviou as atenções dos anéis de Saturno para as curvas absolutamente invejáveis da Jennifer Lawrence.

Antes de me sentar para escrever este texto, a minha ideia era falar da experiência IMAX, de como há filmes que se é para ver que seja ali ou no planetário, e entrar por aí. Mas agora que me forço a olhar para trás e a pensar no que senti ontem, já não me apetece nada disso. O que há de melhor no cinema é a forma como duas pessoas podem ver o mesmo filme em simultâneo e sentir coisas tão distintas, que são fruto do que nos torna humanos e que, como debatia ontem no pós-filme, vai para além do código genético.

De física quântica sei rigorosamente nada, mas caramba, de sentimentos percebo eu. Disseram-me alguma coisa como "houve ali momentos em que me senti angustiado", mas para mim não houve nada disso. Se por um lado o filme está cheio de ideias assustadoras, se abala por completo as nossas noções bem arrumadinhas de espaço e tempo, se nos impele a viajar no espaço para além do espaço e - a la quinta dimensão - entender tudo como um todo, por outro lado assegura-nos de que há sentimentos que atravessam tudo o que existe, reconforta-nos com a ideia de que os afectos são de alguma forma o expoente máximo do conhecimento. 

Entendo que possa ser naïve, mas isto é Hollywood baby, é disto que os sonhos são feitos. E por mais Christopher Nolan que se seja, não há como fugir, não há como escapar à absoluta necessidade de dizer-nos a todos nós, espectadores, aquilo que queremos ouvir e que é: nada bate o amor. Nem ali, nem no espaço sideral, nem no Hunger Games da sala do lado.